sábado, 21 de novembro de 2015

Estou Esperando Maomé



Sou uma montanha. Melhor dizendo, sou uma serra. Não sou enorme, mas sou grande. Não tenho mais pra onde ir. Neste mundo não vou chegar a lugar nenhum. Já estou onde deveria estar.

Veja, três verdades dentro de apenas uma: Admito, eu falo de mais, pratico de menos e o motivo é tão real quanto estas duas primeiras verdades.

Escrevi meu livro, mas não corri atrás de publicá-lo. Tenho minhas músicas, mas não me esforço pra montar a banda que eu tanto queria. Parei de estudar filosofia por conta própria e qualquer outra matéria faz muito tempo. A maior parte do tempo eu fico sozinho em casa e meu motivo é simples. Acontece é que estou esperando. Não estou dizendo que tudo isto é bom, e também não vou dizer que é errado, apenas é isto.

Oras, não é uma lástima que um vendedor se iguale a um comprador na mesma medida que apenas um comprador isolado numa ilha torne-se o fornecedor de suas próprias vendas? Para quem mais iria vender se não para si mesmo? Da mesma forma é irracional que num mundo onde existam procuradores, não existam procurados. Ambos funcionam, porém, a competição torna uns tão menos quanto outros se tornam nada! Isto acontece para que melhor sejam vistos os maiores. A sociedade aplaude de pé a razão, mas não interpreta a magnitude do sistema de maneira a ler as dificuldades dos demais com a essência que se olham no espelho, mas esta virtude não é para a maioria, restando apenas aqueles que buscam existir, a estes, agora, determino suas alcunhas de Maomé's. Assim sendo, afirmo ao leitor que estes não são a minoria.

Veja quantas ironias e sarcasmos rondam as desculpas contidas dentro dos termos "...está sumido...", "...você não aparece a muito tempo..." ou "...e aquele seu projeto?". Complicado mesmo é a reciprocidade na maior parte desdes casos que não retribuo mais o tal gênero destas tais perguntas. Sobretudo eu não tenho mais nada para fazer nesta vida do que esperar pela motivação externa ao meu coração, mas inexistente ela não é, está apenas desativada. E para piorar, a cada ano que se passa, mais decodificado fica esta motivação, dificultando a minha interpretação na integridade existencial.

Não preciso dar maiores explicações, acredito estar bastante claro o que está escrito, não me fazendo sentir obrigação de explicar mais claramente para ninguém! O que preciso provar? Já provei, agora estou aqui, e somente vou sair se a motivação externa surgir como um príncipe que observa o futuro do seu reinado, não como um rei que acredita já ter o poder em suas mãos, pois as ferramentas também morrem. Se não souber como, quando e para quê utilizá-las, nenhuma validade haverá e ela permanecerá estocada no seu recinto aparentemente fútil.
Este sou eu, uma serra.

Obrigado pela leitura.